terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Luna de lua.

   Luna, a mulher dos pés delicados, dos cabelos cor de fogo que encaracolavam nas costas, da boca fechada, da falta do sorriso. Luna, da solidão.
   A mãe chamava-a de azarada e fazia birra por não ter se casado com algum velho rico como as outras irmãs, deixava-a de fora das festas de família por vergonha, mas não sabia que ela gostava mesmo era de ficar sozinha. Com o tempo, passou a gostar também dessa rejeição toda. Não ia mais pra sacada do casebre à noite para chorar, ia para admirar a lua.

(Luna
Nua
Admirava
A lua)

   Ia para a sacada, agora, para namorar a noite. Encolhia as pernas, encostava a cabeça na janela de ferro e adormecia de conchinha com a escuridão.

(E a lua
Admirava Luna
Enquanto dormia)

   Luna, da noite.
   Quando o sol se punha, corria para recolher os jornais que fazia de cama antes que a mãe abrisse os olhos. Fazia o café da família e terminava antes mesmo que os galos começassem a cantar. O dia continuava desinteressante para ela até que a noite chegasse de mansinho. Tinha vezes que demorava três vidas inteiras, outras em que parecia passar num segundo, Luna acordava todos os dias querendo que fosse da segunda maneira.
   Luna era poeta e as estrelas eram seus escritos. Luna Estelar.


   Luna, Luna, Luna... A mulher que tinha um caso com a noite.

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