sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Distante

Meus textos são tintas e linhas gastas sem nada a dizer.
Eu seguro a caneta sem vontade de tê-la entre os dedos.
Meu estômago ronca sem vontade de comer.
Eu olho a cama e não vem a vontade de deitar.
Tudo que eu venho fazendo não vem fazendo sentido algum.
Eu queria estar vivendo num mundo paralelo, mais próximo do que sou.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Ah, de haver.

Descabelei-me por nada. Perdi meu fôlego pelo cigarro que tu me fez carregar de novo nos dedos. Derruba-me, que em pé eu já não mais me aguento...

Minha caneta mal escreve, e tu aí, se apagando... E mesmo assim, no escuro, eu te enxergo. Você volta, mas não fica. Não te quero mais aqui. Não te quero mais por volta, nem longe. Descarrega...

Não foi, não é e não vai ser a primeira vez que eu vejo alguém ir, ou que vou embora. Mas há de ser, há de ter, há de vir ou não há mais nada.

É tão profundo o que eu tenho pra dizer, que nem sei se consigo cavar tanto pra transmitir sinceridade.

  Às vezes me perco ou desisto de tentar buscar, me canso.
  Às vezes não gosto do que vejo quando olho pra ele. Tudo o que eu quero é nunca mais precisar dele. Logo, me arrependo por não tentar entender, por ser tão impaciente mesmo tendo esperado a vida inteira.
  E quando olho pra ela, ah, nem sei o que pensar. É muita mágoa e tanto amor que não sei qual maquia o outro. Não consigo perdoar, ao passo que não consigo culpar.
  Eu deveria estar vivendo perto deles, mas me afasto cada vez mais. Não sei se é inconsciente, já com a intenção de acostumar comigo mesma sem dependências - e de prepará-los para a minha ausência; ou se é consciente e eu sou babaca.

domingo, 23 de junho de 2013

Te tive em meus braços pela primeira vez na vida e era mesmo o teu abraço que eu esperava desde sempre. E foi tão fácil, me pergunto por que demorou tanto... Não sei responder. Talvez a vida aconteça desse jeito, dificultando as coisas mais simples pra que elas pareçam especiais, mesmo sendo tão normais. Talvez nada seja realmente especial que mereça atenção.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Desliga a câmera.

   Queria fotografar-te com os olhos para poder captar o sentimento que a câmera não consegue entender, mas que a minha pupila quando encontra a tua, faz todo o sentido. Poder mostrar-te - já que palavras não medem-se - como te enxergo.
   Imprimir tuas imagens e colar aleatoriamente nas ruas, para que então (um dia, quem sabe, por via das dúvidas) - caso o acaso nos descase -, eu possa ter tuas mãos, teu cabelo, teu pescoço, teu nariz, em um pedacinho de mim de novo. E mesmo de passagem e na pressa, vou lembrar da minha atividade ocular preferida.
   Todavia, o que eu mais anseio, por deus!, é guardar uma foto do significado do teu sorriso pra mim. Guardar numa caixinha onde ninguém, além de mim, jamais possa descobrir-te.
   Por enquanto, faço retratos do teu rosto na memória, mas com cuidado para que não se guardem tão fundo onde eu não possa mais achar. 

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ruim.

   Bato na porta: sussurros. Bato de novo: latidos. Bato pela terceira vez, forte: silêncio... passos... aparece, então, uma vergonha por trás da madeira.

   A cada mentira, a cada farsa, a cada sorriso feito com desgosto, sorriso feito com tristeza, sorriso feito com a súplica de que acredite no sorriso e não nas lágrimas dos olhos, eu sinto menos. A sua visão foi tapada com as mãos que perderam do toque a delicadeza; o caminho enegrecido. Os braços presos impedem-na que siga tateado o trajeto, descobrindo por onde passar e o que pular, logo, tropeça e cai, incansavelmente.

   Tenho a dizer que, de verdade, eu estou me cansando. Foram tantas as vezes que eu tentei te alertar, te ajudar a fugir disso, dessa sombra que te rouba do mundo. Eu estou começando a achar, infelizmente, que não há solução, que eu devo abrir mão de ti - e abro. O peso dos meus ombros se transfere pro coração.
   Quiçá isso doa mais em mim do em ti, já que eu carrego tuas dores e pesares - e tu?, nem bola. Acontece uma coisa: é de teu saber que não sou responsável por ti? e que tu é, por mim? e que com essas tuas atitudes está acabando com o pouco que resta de mim? Pois bem, vou dizer-te uma coisa ao pé do ouvido e será a última sobre isso: eu não quero mais saber. 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Não sinto.

   Se eu morresse amanhã, não deixaria nada para trás. Nada bom, nada ruim. Ninguém lembraria de mim nem das coisas que fiz aqui, mesmo pouco feito.
   Se eu fechar os olhos e não mais os abrir, o que acontece depois? O que falariam de mim, então? Talvez eu não incomode mais ninguém, mas e se for o contrário? Ninguém vai se sentir culpado, de qualquer maneira. (E nem deveria, somos os culpados das nossas próprias mágoas.)
   Eu não quero mover uma pena dessa cama. Quero nada, nada, nada. Sobrevivo no vazio, acostumada. Aceito decisões desde que não sejam minhas.
   Será que tem algo faltando? (Nada.)
   Será que tem alguém sentindo falta?
   Acho que o futuro é agora e agora nada faz sentido.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pausa para meu declínio estrutural.

   Nós devíamos não conversar hoje. Não é que eu não queira ou esteja te desdenhando, mas hoje não. Eu estou bem, se quer saber, é o bastante. Amanhã seguiremos como um dia normal, se quiseres. Hoje tu vais tomar teus cafés e fumar teus cigarros sozinho, mas se te consolas, eu também.
   Se por um acaso eu sair na rua e te vir, disfarce. Não tenho certeza se quero fazer isso, não acho que eu vá aguentar. De qualquer maneira, não desligue o celular, eu posso entrar em desespero. Eu também não desligarei o meu, caso tu sintas necessidade extrema de ouvir minha voz ou fique ansioso a ponto de explodir. Não explodas sem antes me contar, para que eu faça um desenho sobre isso. E não pense que eu gosto menos de ti, é só um teste pra mim. Pode lhe parecer bobo, mas me parece bem justo.
   É assim que eu sou: dias incompletos.

(A verdade é que eu não quero que nós passemos rápidos demais, mesmo que seja preciso retardar o fim.)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Libido.

   Dois cigarros apagados, quatro pernas aninhadas, dez dedos entrelaçados, dois corpos e uma estrela (um avô e um Júpiter), observando. Nenhum outro astro no céu, estão todos reunidos em quatro olhos.
   Dois cigarros acesos contrastando com a escuridão lá de fora. E algumas buzinas aleatórias para o cara de cuecas sentado no parapeito da janela.
   Uma caneta na mão, outro cigarro na boca. O escuro lá de fora e de dentro - e o aqui de dentro.
   Um milhão de beijos, beijinhos. Beijos de tal imensidade que preenchem o vazio aqui - bem - de dentro. E o escuro parece clarear.
   O cigarro apaga, a caneta nos dedos permanece riscando o papel. Dois corpos distantes, cansados. Cansados bem como os olhos de um baseados na inocência dos outros.
   O giro do ventilador pára pra acender outro cigarro (câncer de pulmão). Dois olhos fazendo força pra não derramar meia dúzia de lágrimas; outros dois, fechados.
   Duas cabeças pensantes perdidas em outras desgraças quaisquer.

   Cinzas de um cigarro morto como a alma antes e o corpo após.

(Tchu Tcha Tchu Tcha)

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Luna de lua.

   Luna, a mulher dos pés delicados, dos cabelos cor de fogo que encaracolavam nas costas, da boca fechada, da falta do sorriso. Luna, da solidão.
   A mãe chamava-a de azarada e fazia birra por não ter se casado com algum velho rico como as outras irmãs, deixava-a de fora das festas de família por vergonha, mas não sabia que ela gostava mesmo era de ficar sozinha. Com o tempo, passou a gostar também dessa rejeição toda. Não ia mais pra sacada do casebre à noite para chorar, ia para admirar a lua.

(Luna
Nua
Admirava
A lua)

   Ia para a sacada, agora, para namorar a noite. Encolhia as pernas, encostava a cabeça na janela de ferro e adormecia de conchinha com a escuridão.

(E a lua
Admirava Luna
Enquanto dormia)

   Luna, da noite.
   Quando o sol se punha, corria para recolher os jornais que fazia de cama antes que a mãe abrisse os olhos. Fazia o café da família e terminava antes mesmo que os galos começassem a cantar. O dia continuava desinteressante para ela até que a noite chegasse de mansinho. Tinha vezes que demorava três vidas inteiras, outras em que parecia passar num segundo, Luna acordava todos os dias querendo que fosse da segunda maneira.
   Luna era poeta e as estrelas eram seus escritos. Luna Estelar.


   Luna, Luna, Luna... A mulher que tinha um caso com a noite.